segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Asefru

 
   Pierre Bourdieu
Mouloud Mammeri
Mouloud Mammeria - Uma das designações para a poesia no dialeto cabila é asefru (plural: isefra), que provém de fru, elucidar, esclarecer uma coisa obscura (em outros dialetos berberes é um pouco diferente). Parece-me uma acepção antiga. Em latim, poema é carmen, que significava, se não me engano, o sortilégio, a fórmula eficaz, que abre portas. É o mesmo sentido de asefru e, talvez, essa concordância não seja puramente acidental nesses idiomas mediterrânicos, para os quais o verbo é, de início, um instrumento de elucidação, que torna as coisas permeáveis à nossa razão.

Pierre Bourdieu. – Fru também significa selecionar o grão? Seria o poeta, então, aquele que sabe distinguir, tornar distinto, quem, por seu discernimento, opera uma diacrisis, separa coisas ordinariamente confundidas?

M. M. – O poeta é quem elucida coisas obscuras.

Diálogo sobre a poesia oral na Cabília, 
entrevista de Mouloud Mammeri a Pierre Bourdieu, aqui.